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Cristo no Período Patriarcal

“Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei”. Gênesis 22.2

A era patriarcal é aquela que compreende o período que vai desde a expulsão do primeiro casal do jardim do Éden até a chegada da Lei de Deus que inaugurou o que chamamos de era mosaica. A era patriarcal pode ser dividida em duas grandes partes: o período dos patriarcas antediluvianos e o período abraâmico.

Durante todo o primeiro período patriarcal, a convivência com os longevos pais antediluvianos certamente proporcionou um ambiente de esperança a cada nascimento, pois todos aguardavam o cumprimento da mais antiga promessa (Gn 3.15): o nascimento do Descendente vitorioso traria bênçãos para o povo que servia a Deus.

As desilusões com o ser humano eram grandes. No tempo de Noé, a Bíblia nos diz que o homem era continuamente mau em seu coração (Gn 6.5). Parecia que o mal havia triunfado enfim. Mas, Deus separa Noé e sua família, salvando-os do juízo que haveria de sobrevir aos homens.

Deus, então, refaz com Noé sua promessa, reafirmando em forma pactual o interesse em sua descendência: “Eis que estabeleço a minha aliança convosco e com a vossa descendência”. Assim foi que, no segundo período patriarcal, se manteve viva a esperança do nascimento glorioso de um libertador vencedor que esmagaria a cabeça da serpente.

O tempo foi passando, o pecado se alastrou novamente, veio a torre de Babel e os homens pervertidos foram dispersos para vários cantos do planeta. A promessa de surgir um descendente da mulher que libertaria o povo de Deus do jugo do pecado, continuava sem cumprimento e, aparentemente, tornou-se praticamente esquecida. Mas não por Deus!

No capítulo 12 do livro de Gênesis, o Senhor se manifesta a Abrão e o chama para uma tarefa importantíssima: ser o líder de uma nova geração, um novo povo que traria glória ao Nome de Deus. Abrão é chamado para ser bênção para todos as famílias da terra e para ter uma semente numerosa como as areias do mar e as estrelas do céu. Novamente o Senhor manifesta o Seu poder e renova as esperanças na promessa do nascimento do Descendente.

Mas, como serei pai de uma grande nação, como gerarei descendência se minha mulher é estéril? Essas questões, bem como o avançar da sua idade estavam na mente de Abrão. Até que, com noventa e nove anos, o Senhor lhe renova as esperanças dizendo: “Farei uma aliança entre mim e ti e te multiplicarei extraordinariamente” (Gn 17.3). Naquele lugar, Abrão passou a ser chamado de Abraão - pai de numerosas nações. Deus deu a Abraão um filho: Isaque, o filho da promessa (Gn 21 1-3).

A passagem bíblica mais dramática sobre o relacionamento de Abraão com Deus é aquela que faz referência à entrega de Isaque em holocausto ao Senhor. Naquele momento compreendemos que o filho da promessa, o tão esperado libertador, era um tipo dAquele que, muitos anos depois, viria a nascer e seria chamado “Emanuel”.

Emanuel é o princípio primordial da Aliança de Deus com Abraão e com sua descendência. Isaque é o sinal visível de que Abraão andava com Deus. Seu nascimento mostrou que o libertador não viria de forças humanas, nem seria um homem comum.

Algumas características de Isaque revelam o seu caráter messiânico, como tipo de Jesus Cristo. A mais forte de todas essas características foi a submissão de Isaque ao seu Pai. Como pode ser percebida na passagem de Gênesis 22: “Abraão tomou a lenha para o holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho; ele carregava o fogo e o cutelo. Assim caminhavam ambos juntos”. Um diálogo tomou conta da cena: Isaque questiona a seu pai: “Meu pai! — Eis me aqui, meu filho! — Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” Naquele momento, podemos imaginar as muitas coisas que se passaram na mente de Abraão: “...como se cumprirá a promessa desse jeito? Como farei o que Deus me pediu? Tenho de continuar, pois Deus mandou!” Quem sabe uma daquelas orações que ninguém ouve, somente Deus que ouve os corações: “...meu Deus estou sofrendo com isso tudo!” A resposta de Abraão a Isaque foi um simples “Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto”. E a Escritura nos diz: “seguiam ambos juntos”.

Em tudo isso, vemos a submissão do menino Isaque. Assim como Jesus foi submisso, Isaque não se negou a obedecer ao seu pai, mesmo com o risco à sua própria vida. Foi nesse contexto que Deus reafirmou a Aliança com Abraão e com sua descendência. Assim, manteve-se viva a esperança messiânica do nascimento do Descendente que esmagaria a cabeça da serpente.

Jesus, o Senhor humilde e submisso à vontade do Pai, haveria de entregar-se voluntariamente para ser ferido em lugar de muitos homens e mulheres, como nós. Seremos, para sempre, gratos por sua submissão.

JOSÉ MAURÍCIO NEPOMUCENO

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