ATRAINDO PECADORES COM AS AMEAÇAS DO FOGO DO INFERNO
Existe uma metodologia muito utilizada, feita há bastante tempo, e na maioria das vezes feita de maneira equivocada, com o fim de atrair pessoas para igreja. É a metodologia de pôr medo nas pessoas a respeito do inferno, as ameaçando de irem para lá caso não se convertam. Quantos pregadores no final do culto fazem apelos ameaçadores para que as pessoas se tornem “crentes” para não irem para o inferno? De fato o inferno existe e foi preparado para o diabo e seus anjos e Cristo deixou claro que já tem gente lá e que muitos caminham para esse local (Lucas 16:19-31). Ao revelar esse lugar de punição, Jesus não o fez para coagir as pessoas a virem a ele. Ele deixou bem claro que ninguém tem essa capacidade se não for concedida do alto (João 6: 44,65). Ele apenas estava conscientizando seus discípulos da existência desse local e a realidade de que muitos vão para lá como demonstração de que Deus é justo em punir pecadores impenitentes (Mateus 11:23). As pessoas devem se voltar a Cristo, por Cristo, por desejo de terem seus laços unidos com Deus, pois em tese, todos já nascem sob condenação (João 8:24). Muitos querem escapar do inferno, mas continuam fugindo de Deus ao mesmo tempo. Atrair as pessoas com ameaças do inferno, como se dependesse dela, só atrairá indivíduos sem conversão, ímpios querendo escapar do juízo divino, mas que ao mesmo tempo não querem a Deus. A Escritura é bem clara de que Deus reservou indivíduos para serem objetos de sua graça e misericórdia e outros de sua ira e condenação (Rm 9:22-23), Ele é misericordioso com quem Ele quer ser, Ele não deve sua misericórdia a ninguém (Rm 9:15), e ninguém irá para o inferno como uma emboscada e ato injusto de Deus, Ele apenas deixa de ser misericordioso com alguns, Ele não tem o pecador por inocente (Naum 1:3). O inferno foi preparado para anjos caídos e para indivíduos que não foram incluídos, contemplados no plano de salvação e que serão objetos da manifestação da ira divina (Mt 25:41,46; Rm 9.17,22).
O homem é rebelde por natureza e se for para igreja não por conversão, mas apenas por medo do inferno, nada mudará nele, se acomodará com a carteirinha de membro e o banho que levou ao se batizar, mas nada muda no seu existencial, permanecerá o mesmo, nada mudará nas suas relações, continuará trambicando, mentindo e roubando. Existe um número espantoso de membros de igrejas que embora tenham adentrado numa religião, sendo fiéis nas regras religiosas impostas, continuam sendo indivíduos de mau-caratismo e desonestidade. Querem escapar da condenação do inferno, mas não querem obedecer a Deus, acham que o simples fato de serem membros de uma denominação religiosa, os tornará salvo. São impecáveis na obediência a determinadas regras imposta pela religião, tais como não comer certa comida, ou beber determinada bebida, se vestir com certo estilo de vestimenta, tais coisas são práticas necessárias para livrá-los do inferno e os caracterizar como filhos de Deus. Não entendem a doutrina da graça e não confiam totalmente no sacrifício expiatório de Cristo na cruz. O apostolo Paulo já corrigiu esse tipo de pensamento, dizendo que obediência a regras legalistas impostas por homens não santifica ninguém, nem salva, é pelo sangre de Cristo derramado na cruz que se há garantia de salvação (Cl 2:13-23). Para esse tipo de gente que vai à igreja só por medo do inferno, falamos o que João Batista disse para os fariseus curiosos e mal-intencionados: “Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? (Mt 3:6), e Jesus também indagou: “Como escapareis da condenação ao inferno” 1 (Mt 23.33), note que Jesus não usa a realidade do inferno para coagi-los a virem, mas os adverte que irão para lá. Como Cristo fez, devemos falar da realidade do inferno, mas não colocando medo nas pessoas e as coagindo a virem para escapar desse lugar.
O evangelho fala de duas realidades, quem crer será salvo e quem não crer será condenado (Mc 16:16). Deve se ensinar a realidade e o fato de que crendo e tendo a Cristo como nosso salvador, isso nos tornará salvo, não necessariamente de um local de castigo, mas salvo de uma vida sem Deus, salvo de uma existência eternamente separada de Deus. O temor que se deve ter, deve ser o temor a Deus e não do lugar do castigo, o temor a Deus que tem o poder de colocar a pessoa nesse lugar de punição (Mt 10:28). O ter medo de ir para o inferno, não nos impede de pecar, mas um coração regenerado sim.
O inferno é o local que abrigará os pecadores impenitentes, se um pecador cônscio disso for impulsionado a vir a Cristo, ele virá, virá a Deus por contrição e conversão, não por atrição, como tem sido a realidade de muitos. A conversão é um ato de Deus, não é produzida por técnicas humanas, é Deus que torna seu coração enternecido, sensível a verdade divina. Por mais que os profetas na antiga aliança ameaçasse o povo por sua desobediência, ameaças de castigo por pestes, guerras e catástrofes, não havia arrependimento, a Escritura deixa claro que embora os homens sejam conscientizados da ira divina e ainda sofram aqui, não se arrependem (Dn 9:5-6; Ap 16:8-9; Lc 16:27-31). O homem é um defunto espiritual, um cadáver, um escravo, se não for Cristo a libertá-lo, não será as ameaças de morte e do inferno que o coagirá. Entretanto, não quero dizer com isso que pelo fato dos pecadores não se convencerem com as ameaças do inferno, devemos deixar de falar da realidade desse local. Uma coisa é falar dessas realidades espirituais como fato, outra é usar como método amedrontador para atrair adeptos, coisa que Cristo não fez. De acordo com o pregador puritano Chistoper Love, a pregação sobre o inferno, conscientiza os ímpios da futura punição de Deus, gera um temor reverencial e devocional nos crentes, os levando a glorificarem a Deus por seus atos de justiça (Ap 16:4-7).
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1 O termo no original grego para a palavra Inferno é Geenna, que foi traduzida para o latim como “infernum”. Geena era um local fora dos muros de Jerusalém onde se queimava corpos de criminosos, no hebraico é uma referencia a um vale, o Vale de Hinom, um lugar que também havia rituais de sacrifícios de crianças consagradas ao deus Moloque. Esse local havia se tornado símbolo do castigo eterno reservado para pecadores no dia do juízo.